12.28.2005

(f) Fado


Fado da Outra Margem
letra e música: F. Gomes


dum lado o cais
do outro lado a cidade
a noite cai por fim
e os corpos sem vontade
a vida passa e corre
e o medo de perder
faz transformar as almas
sem nada p’ra dizer

dorme-se a sono solto
cala-se a raiva vencida
de mais um dia passado
duma causa perdida
há vidas que são dramas
há horas que são dias
não há loucos nem sãos
só há sombras vazias

ai de mim, sem te ter, sem poder
encontrar-te aqui
seria, como um pobre vagabundo
sem amar-te um segundo
era morrer sem ti


a noite mal dormida
vai dar lugar à alvorada
caminham sonolentos
p'ra mais uma jornada
a cidade não espera
a vida também não
faz-lhe falta o tempo
para parar e dizer não

12.23.2005

(e) Emanuel

Idou ê parthenos en gastri exei kai texetai uion kai kalesousin to onoma
autou emmanouêl o estin methermêneuomenon meth êmôn o theos.
Eis que Maria conceberá e dará à luz um filho ao qual porá o nome de Emanuel
que quer dizer Deus connosco (Mateus 1:23)

Natal não é a árvore, não é o Pai Natal da Coca-Cola, não são as prendas, não são as luzes. Natal é o desafio de um mundo mais fraterno e solidário, mensagem de amor revelada aos homens pelo Menino e que nem a ausência de fé diminui.

A mudança de atitude começa em nós e revela-se nos outros. Paz na Terra...

12.22.2005

(d) Danças Ocultas


"A dança do ar. Oculta no mais transparente fundo do que somos."

Quatro concertinas com muita alma. A respiração da música em cada nota e a poesia no silêncio das palavras.
Vale a pena visitar e ouvir com tempo, sem a marcação fatal dos ponteiros que nos roubam os dias.
Recosto-me no sofá, fecho os olhos e viajo...

12.21.2005

(c) Coral S.O.M.

Em tempos o Sport Operário Marinhense teve um grupo coral. Foi para mim uma honra e um privilégio ter feito parte do seu naipe de tenores, uma experiência única e a repetir (em dia e hora a designar). Grande parte da minha modesta formação musical deve-se a essa participação e à superior regência da maestrina Paula Coimbra, a qual desenvolveu na Marinha Grande um trabalho notável, primeiro no Coral SOM e mais tarde no Coral EmCanto.
Seria interessante se a Marinha pudesse ter de novo um grupo coral.
Fernando Lopes Graça e José Gomes Ferreira "deram" a música e a letra, gerações de coralistas têm dado a voz;

ACORDAI

Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz

Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações

Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!

12.20.2005

(b) Bicicleta


Como qualquer bom marinhense, a bicicleta faz parte da minha vida.
Não me recordo exactamente quando aprendi a andar mas tenho uma vaga memória de uma bicicleta pequenina (dos primos da Amieirinha) e de dar umas quedas na traseiras da casa onde moravam, juntamente com o meu irmão João.

Em casa havia uma bicicleta grande (não me recordo a marca), com um suporte traseiro onde me empoleirava para o meu pai me levar à escola da Embra a seguir ao almoço, frequentava eu a primeira classe, mas não sem antes “fazer escala” nas bombas da Sacor para tomar um café.
Na bicicleta do pai não havia permissão para aventuras.

A primeira bicicleta para os garotos, motivo de algumas disputas mais acesas entre os irmãos, foi uma Sirla roda 20, daquelas que se dobravam ao meio.

Entre muitos kms, aventuras e números artísticos feitos de ginga, recordo:
o trabalho nas férias grandes nos Correios (fazia as férias do vizinho Armando Carteiro, a entregar telegramas, de bicicleta claro);
uma queda monumental numa noite de sábado de Carnaval a caminho do Império (seguia pela Av. José Gregório montado na burra, mascarado de mulher – peruca, vestido justo e curto, meia preta de licra, salto alto, pochette - quando subitamente, perto do café dos pais do meu amigo Vasco, resvalei na valeta e rebolei uns bons metros acabando por me imobilizar “toda descomposta”);
uma viagem de ída para a terra dos avós maternos (Alqueidão da Serra, na Serra d’Aire, perto de Porto de Mós), sempre a subir e tendo como único conforto pensar no quanto seria bom a viagem de regresso, sempre a descer. Puro engano. O regresso de bicicleta nunca aconteceu porque tendo estacionado o veículo atrás de uma camioneta, foi a mesma triturada por esta quando o seu distraído proprietário fez marcha-atrás. “Eu bem ouvi umas coisas a estalar” disse-me o sujeito, que ao fim de alguma discussão acabou por assumir a culpa do trágico acidente e se responsabilizou por mandar arranjá-la (coisa que demorou três penosos anos).
Todos estes episódio tiveram por protagonista a velha bicicleta do pai e da qual perdi o rasto.

Em tempos fui céptico em relação às ciclovias. Hoje considero que tinha uma opinião completamente errada. Era até desejável que se tornasse a utilizar a bicicleta não somente como instrumento de lazer, mas também como transporte alternativo – todos tinhamos a ganhar em qualidade de vida.

12.19.2005

(a) Amigos









Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também

Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

(José Afonso)

12.16.2005

(z) Zeca Afonso


O meu abecedário começa na letra "Z". Só podia começar...
a
Zeca Afonso é a minha maior referência musical. O próprio nome deste blogue foi-me por ele "oferecido" de forma solidária e desinteressada através da sua magnífica obra e exemplo de vida.
a
Dele são os primeiros discos que me recordo de ouvir, as primeiras canções que toquei e cantei. Com ele aprendi a dimensão que as palavras ganham nas canções e a importância destas na construção de um mundo mais justo e solidário.
a
Zeca Afonso é um homem maior e uma fonte de inspiração.
a
Guardo, entre outros, discos e cassetes com as suas canções e com o tributo "Filhos da Madrugada" (ouvidas vezes sem conta), e um vídeo da sua última actuação ao vivo. Um dia hei-de ter toda a sua discografia.
a
Tenho ainda a (secreta) esperança (e o sonho) que se leve por diante a realização de um festival anual de música de intervenção, aqui na Marinha.
a
Para o Zeca deixo a canção,
a
a
o dia amanhece
como um dia vulgar
nas ruas corre o sangue
dos que vieram
celebrar a noite
que é a côr da face
dos tombaram
mas que não morreram
r
mas há quem
da liberdade faça uma bandeira
ainda há quem
p'la liberdade passe a vida inteira
sem o sol, sem o céu
mas com a vontade
de que um dia novo nasça em liberdade
a
ouvem-se as vozes
dos que não calaram
o corpo é igual e a alma sente
quando a morte vem
não escolhe a côr
e a terra que pisam
não é diferente
a