4.25.2006

(v) 25 de Abril


Grandola Vila Morena

(Letra e Música de José Afonso )

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade


«Daqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas:
As Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos, sinceramente, que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal, para o que apelamos para o bom-senso dos comandos das forças militarizadas, no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário só poderia conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os portugueses, o que há que evitar a todo o custo. Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica esperando a sua ocorrência aos hospitais a fim de prestar eventual colaboração que se deseja sinceramente desnecessária.»
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VIVA A LIBERDADE! E Venham Mais Cinco...

4.23.2006

(u) Utopia


utopia…

só uma coisa te impede de me alcançar,
tu mesmo,
quando me procurando te perdes.
já tinhas pensado nisso?
não, não tinha.
sabes, não tenho tempo,
há coisas bem mais importantes!
será?
e agora que se vive Abril,
cumpriu-se?
“isto é tudo a mesma corja”
diabos te levem se te entendo,
então e as cores fortes do quadro
que me pintaste?
as canções?
as palavras de ordem?
foi tudo em vão?
era jovem e
sabes como são os jovens…
a vida transformou-me.
para pior, pelos vistos.
é isso que pensas de mim?
os teus filhos merecem muito mais!
sabes que por eles,
faço qualquer coisa…
então, o que esperas?

4.19.2006

(t) Trovante



Memórias de um Beijo

Lembras-me uma marcha de Lisboa
Num desfile singular,
Quem disse
Que há horas e momentos p'ra se amar

Lembras-me uma enchente de maré
Com uma calma matinal
Quem foi quem disse
Que o mar dos olhos também sabe a sal

[refrão]:
As memórias são
Como livros escondidos no pó
As lembranças são
Os sorrisos que queremos rever, devagar

Queria viver tudo numa noite
Sem perder a procurar
O tempo, ou espaço
Que é indiferente p'ra poder sonhar

[refrão]

Quem foi que provocou vontade
E atiçou as tempestade
E amarrou o barco ao cais
Quem foi, que matou o desejo
E arrancou o lábio ao beijo
E amainou os vendavais

[refrão]

devagar, devagar


Lembram-se? Que "Saudades do Futuro"...

O Trovante, para além de representar (para mim) uma referência maior na música portuguesa, foi o grupo português que mais vezes vi ao vivo. Recordo um celebre concerto (que o não chegou a ser) no parque de estacionamento do SOM, e que após 10 minutos foi interrompido por causa da chuva que caía sem dó nem piedade. Os moços abrigaram-se no bar (que se encontrava fechado nesse dia, por causa do concerto), e eu tive a sorte de conseguir entrar e chegar à conversa com eles. Guardo o bilhete desse espectáculo devidamente autografado pelos sete magníficos. O concerto seria "reposto" quinze dias depois no Império, e a sala não estava cheia.

4.05.2006

(s) São Pedro de Moel


Pego na bicicleta e arranco em direcção ao mar. Pedalo pela mata, por entre pinheiros bravos, acácias e eucaliptos de grande porte, inspirando em golfadas o ar forte e com aroma a terra, que anuncia a brisa marinha. Os fetos estão verdes e o musgo mal consegue esconder os míscaros que rompem o tapete verde, o mesmo que aconchegou no presépio o Deus Menino no último Natal. Procuram os primeiros raios de sol da primavera, depois das chuvas purificadoras do inverno. E eu, montado na minha bicicleta, ignoro o cansaço e pedalo ao ritmo do vento que embala ramos e folhagens, em busca do mar e da calma desta mansa praia; deste pedaço de terra com nome de santo, o mesmo que guarda as chaves do Paraíso e que tomou por sua conta, a mando do Criador, este pequeno tesouro que Ele mesmo reservou para os Homens das Fábricas de Fogo.
De repente a densa mata rasga-se e abre-se num céu azul, azul forte, azul vivo, azul suave, da cor do mar, da cor dos sonhos que perdi com a idade, mas que teimosamente me assaltam quando, dormitando, julgo dar descanso ao corpo.
Num último esforço deixo para trás o Canto do Ribeiro e subo em direcção ao horizonte. Fixo os olhos no mar, respiro fundo, esqueço quase tudo e ouço no vento a poesia de D. Diniz, de Afonso Lopes Vieira. Em baixo, a Praia Velha guarda histórias de resistência, guarda o ribeiro que atravessou o pinhal, separando com uma língua de areia o seu derradeiro encontro com o mar. Os pinheiros que bordam a orla marítima há muito que se vergaram diante deste cenário deslumbrante, contorcendo-se, rastejando, procurando na terra-mãe protecção para os dias de tempestade.
Já se avista o Farol e o Penedo da Saudade, as muralhas que protegem o promontório, e por detrás, o casario. Finalmente chego. São Pedro abre-me as portas e deixa-me entrar no Paraíso. Se pudesse, escolhia não haver tempo, escolhia este pedaço de terra e de mar para viver o que resta das estações do ano.


De São Pedro de Moel, apenas vos digo o que sinto. Não ouso ir mais além. Outros, de forma superior, escreveram, pintaram, fotografaram. Convido-vos apenas a visitarem as imagens que o Miguel Costa fixou para as gerações vindouras.