12.30.2007

(a) Ano Velho

O Ano Velho está por dias. Deixa saudades? Numas coisas sim, noutras nem tanto. Ver os filhos crescerem é coisa cujo "valor" não é mensurável. Acordar todos os dias com quem se ama, também não. Sentir o tempo escorrer entre os dedos e pensar que aquela senhora que se encontrou há dias foi a nossa professora da quarta classe há mais de trinta anos, é assustador. Sobretudo quando se tem vontade de "mudar o mundo".
Uma coisa é certa, tenho fé nos dias que se seguem. Venha de lá o Ano Novo que o velho já repousa no albúm das fotografias. Mas estou grato por tê-lo vivido.



Adeus ó Serra da Lapa (Zeca Afonso)


Adeus ó serra da Lapa
Adeus que te vou deixar
Ó minha terra ó minha enxada
Não faço gosto em voltar


Companheiros de aventura
Vinde comigo viajar
A noite é negra a vida é dura
Não faço gosto em voltar


Dou-te o meu lenço bordado
Quando de ti me apartar
Eu quero ir ao outro lado
Não faço gosto em voltar


O meu dinheiro contado
É para quem me levar
O meu caminho está traçado
Não faço gosto em voltar


Moirar a terra insegura?
Fugir da serra e do mar?
Meus companheiros de aventura
Tudo farei para salvar

11.30.2007

(x) Xaile

Por vezes, para darmos dois passos em frente temos de dar um atrás, mais não seja para tomar balanço (vendo a coisa pelo lado que mais me convém, já que tenho "postado" pouco).
Justifica-se por isso que retorne à letra "X", porque descobri há pouco tempo este grupo que canta música de raiz tradicional portuguesa. Em português. Pelo que li, vi e ouvi, parece-me um projecto interessante, com três belas vozes. E a música quase que cheira a um híbrido de Júlio Pereira com Trovante. Eu gosto!
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(embora o meu tema favorito seja "Minha Circunstância", fico-me por este "Quer eu Queira, Quer Não", já que o vídeo apresenta melhor qualidade do que o primeiro)
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(post it) Associativismo

Na segunda-feira à noite fui à assembleia geral da ADESER II, uma IPSS que entre outras valências é responsável pelo Centro de Acolhimento Temporário da Marinha Grande, casa que acolhe crianças enviadas pela Segurança Social ou pelos Tribunais, em situações complicadíssimas de risco. Estávamos onze pessoas das quais, seis pertenciam aos órgãos sociais.
Ontem à noite fui à assembleia geral do Sport Operário Marinhense, uma das mais importantes agremiações culturais da Marinha, (senão a mais importante), e uma referência na luta contra o antigo regime. Estávamos catorze pessoas das quais, seis ou sete pertenciam aos órgãos sociais. Por vontade expressa da maioria do sócios presentes, a assembleia acabou por não se realizar tendo sido adiada.
Sintomático numa cidade com uma grande tradição associativa.
É por isso que em dia de inauguração da XVIII Feira de Artesanato e Gastronomia, numa organização da Associação Social, Cultural e Desportiva de Casal Galego, uma IPSS que desenvolve um excelente trabalho, tenho de saudar centenas de pessoas que se envolvem de forma generosa na organização desta iniciativa. Este é o reverso da medalha e é esse que eu prefiro valorizar pelo seu bom exemplo. Parabéns e um abraço ao meu amigo Valério Silva, actual presidente da direcção.

10.08.2007

(z) zzaJ (oirártnoc oa rel)

É com grande gosto e prazer que todos os anos procuro assistir ao que posso do Festival de Jazz da Alta Estremadura. Não sou profundo conhecedor (nem pouco, mais ou menos), mas sou apreciador, sobretudo quando a coisa é ao vivo.
Na sexta-feira fazíamos anos de casados, os sogros ficaram com os miúdos (o que se agradece), para ir-mos jantar fora. Trocámos o jantar por um prato de sopa em casa e fomos ver um magnífico concerto com Bennie Wallace Trio, no auditório do Sport Operário Marinhense. Jazz americano com três magníficos interpretes, saxofone tenor, contrabaixo e bateria. Encheu-me as medidas. Mas para além do gozo que me deu assistir, foi o gozo de ver o prazer que aqueles três músicos tiveram a tocar para uma sala pouco mais de meia.
Parabéns à ADCA que uma vez mais organizou o evento, juntamente com as Câmaras da Marinha e de Leiria, e às direcções artística e executiva do festival a cargo de dois homens do Hot Club, Pedro Moreira e Luis Hilário. E já agora parabéns à minha mulher por ter casado comigo. Parabéns Ana.
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E porque não ouvir Carlos Bica? Um dos meus músicos preferidos cujo trabalho "Azul" tive o grande prazer de ver ao vivo, justamente, no Sport Operário, num dos festivais.
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9.29.2007

(x) Xutos & Pontapés

A primeira pessoa a quem eu ouvi falar dos Xutos & Pontapés, há muitos anos atrás, foi o meu amigo Zé Polido. Aliás, eram dele, na altura admirador confesso desta banda, as primeiras cassetes que ouvimos.
Passado este tempo todo os Xutos continuam com uma força e uma coerência enormes e eu rendo-lhes a melhor homenagem que posso, ouvir a sua música.

9.18.2007

(post it) Começaram as Aulas

O mais velho começou a escola na sexta-feira. Esta é a primeira semana de aulas e para variar as "actividades de enriquecimento curricular" do 1º ciclo vão começar mais tarde. Lá vamos ter de nos organizar temporariamente para ir buscar o rapaz às 15:30.
Se os responsáveis por estes adiamentos tivessem a noção do transtorno que isto causa às famílias, de certeza que a tempo e horas teriam preparado as coisas para tudo começasse com a normalidade exigida.

(v) Vanessa da Mata

Sem grande delongas, o melhor é mesmo ouvir Vanessa da Mata, aqui num casamento feliz com Ben Harper. Nada melhor para começar o dia do que ouvir aquilo que gostamos. Muito bom mesmo...


9.03.2007

(u) URSA MAIOR ursa menor



Olhar as estrelas foi coisa que me ficou de miúdo, dos tempos de escuteiro. Fixar o céu estrelado e descobrir as contelações, a Ursa Maior, a Ursa Menor. Através delas descobrir a estrela polar, a estrela que nos guia de volta a casa. É que às vezes, de pés assentes na terra, envolvidos no ruído que de forma cumplíce produzimos sem cessar, acabamos perdidos. Esquecemos que basta olhar o céu na noite limpa de ruído e procurar a estrela guia, na cauda da Ursa Menor e a cinco comprimentos de distância do limite da Ursa Maior, segui-la e reencontrar de novo o Norte. Coisas simples, que teimamos em esquecer.

7.21.2007

(t) tempo (horas, minutos, segundos, a eternidade)

(escrito ao sabor de "Encosta-te a Mim")
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É bom ter todo o tempo, fazer uso do gozo que nos dá, estar com todos, contigo. Deperdiçar um só segundo é deixar morrer a frágil pétala duma flor que não dura mais do que um ínfimo lapso do tempo que nos sobra. Mas a culpa também é da idade, a idade baralha-nos o tempo. Lembras-te quando ele teimava em não passar e a ansia de ser crescido corria mais veloz? Lembras-te quando o desperdiçavas porque era coisa que não te faltava? Agora corres tu atrás dele porque começas a perceber que é um bem precioso. Tarde de mais? Espero que não pois apenas tenho a certeza de que não o quero perder.

Um dia destes jantei com uns amigos da "velha guarda". Lembrámos tempos passados e partilhámos recordações e memórias. São as quarenta primaveras a amolecerem-me a arrogância. "Lesbras-te daquela canção que falava de nós, dos amigos?" perguntou-me o Jorge. "Lembro-me dela muitas vezes, «estátuas com alma de marfim»".

De forma particular para o Jorge e para todos os amigos que amamos,

(letra e música de Filipe Gomes)

Os ponteiros marcam sem se importar
O tempo que teima em fugir
Ficava aqui para sempre contigo sem sentir
O frio, a chuva, os tormentos, o medo
Como barco que encontrou um cais
Fugir contigo nas asas do sonho
E não voltar mais

E amanhã, outro dia como o de hoje virá
Só não sei se ainda estarei, se parti, eu sei lá
Esquecer faz parte da vida
O que é bom vai-se com o vento
E fica um retrato manchado pelas nódoas do tempo

E ela insiste
A lágrima teima em cair, como gota
De orvalho da manhã, que sorvo em tua boca

(refrão)
Isto são coisas d’amizade
Dias de glória sem ter fim
Os homens morrem, as pedras não
Estátuas com alma de marfim
Isto são coisas d’amizade…

6.05.2007

(s) simplesmente...

Atulhado de papéis e números, contas e mais contas, declarações fiscais, aulas, frequências, notas e os putos a exigirem cada vez mais mão de obra e cabeça fria. O tempo tem passado por mim a correr, sem dar conta do quanto preciso que ele pare para pôr a escrita em dia. Enfim, entre mortos e feridos, lá vão passando os melhores anos das nossas vidas.
E já que o tempo é curto, inversamente proporcional à vontade, detenho-me simplesmente em coisas... simples. Como esta Amy Winehouse, por exemplo. Uma voz fantástica e uma viola. Simplesmente...


4.25.2007

Liberdade

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LIBERDADE

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada.
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,

Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta

A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por Dom Sebastião,

Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca....


Fernando Pessoa

Às vezes tenho a sensação de não viver no tempo certo, ansiar pela Liberdade parece um parodoxo depois de Abril. O ar que hoje respiramos não é o mesmo, apesar da facilidade com que o fazemos. Nem damos conta. A Liberdade porém, nunca será uma tarefa acabada. Talvez por isso eu sinta esta inquietação.

4.23.2007

Dia Mundial do Livro

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Fica a sugestão (em especial aos meus amigos José Machado e Elsa, que comigo partilham este gosto especial pela leitura).

3.24.2007

(s) Sporting

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Aproveito este fim de semana de selecção nacional para falar do clube do meu coração e da minha razão, o SPORTING CLUBE DE PORTUGAL!
Falo neste blog dos prazeres, das paixões. O Sporting também é isso, um grande prazer e uma grande paixão. Um clube diferente que se assume também, não pela quantidade, mas pela qualidade dos seus adeptos e simpatizantes. Como este grande sportinguista (cujo nome também começa por "S") e que aqui deixo pela qualidade e pelo bom gosto com que sempre nos brinda. Viva o Sporting! Viva o Sérgio Godinho! Às vezes o amor...


3.07.2007

(r) Ricardo Reis




Num tempo em que não há tempo, apenas peço silêncio e sossego, oito minutos para a música de Pat Matheny & Charlie Haden e para as palavras intemporais de Ricardo Reis. Palavras ditas no tempo e no modo certos, palavras que nos trazem de volta ao que realmente importa, que recentram o discurso no verbo. Não é mais um momento pretencioso de poesia e de música calma, é uma angústia sentida, uma saudade do futuro, um dia que se esfuma e uma noite que se ergue sobre as cinzas de mais uma jornada de trabalho. Cada coisa... cada coisa... a chuva parou, a lua aparece, e tu, onde estás?






Cada Coisa


Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.

À noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida.

À lareira, cansados não da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
Não puxemos a voz
Acima de um segredo,

E casuais, interrompidas, sejam
Nossas palavras de reminiscência
(Não para mais nos serve
A negra ida do Sol)

Pouco a pouco o passado recordemos
E as histórias contadas no passado
Agora duas vezes
Histórias, que nos falem

Das flores que na nossa infância ida
Com outra consciência nós colhíamos
E sob uma outra espécie
De olhar lançado ao mundo.

E assim, Lídia, à lareira, como estando,
Deuses lares, ali na eternidade,
Como quem compõe roupas
O outrora compúnhamos

Nesse desassossego que o descanso
Nos traz às vidas quando só pensamos
Naquilo que já fomos,
E há só noite lá fora.

2.28.2007

(q) Quino

2.22.2007

20 Anos Depois (23/02/1987)


Amanhã passam vinte anos sobre a morte de José Afonso. A RTP, serviço público de televisão, associa-se à homenagem e transmite esta madruga um debate sobre a sua vida e obra e o seu último concerto (no Coliseu), respectivamente às 00:35 horas e 01:25 horas. Em horário nobre a RTP transmite o concurso "Um Contra Todos" e a telenovela "Paixões Proibidas". O Zeca, um Grande Português, merecia bem mais! Em vinte anos mudou muita coisa, mas muito mais há a mudar, sobretudo no que à pequenez e à subserviência diz respeito. E tudo isto num tempo em que se puxa o lustre ao regime de Salazar e se apresenta o tirano ditador como um herói nacional. Continuamos por isso a ser um povo pequenino, com alguns Homens Grandes. Zeca Afonso é seguramente um deles. Viva o Zeca!

2.16.2007

p (parênteses)

Um deste dias, remexendo nas cassetes antigas juntamente com o Francisco, encontrei uma gravação com cerca de 20 anos. Piano, viola, acordeão e voz. A canção chama-se Senhora dos Navegantes e foi uma das primeiras. A gravação foi feita por alturas de uma participação no Festival da Canção das Figueiras (Lina, Cati, Carla, Ana e Filipe). A gravação é má, muito má mesmo, as vozes mal se ouvem e nem a tecnologia conseguiu fazer milagres. Mesmo assim decidi partilhá-la, por todas as boas memórias que me traz. Perdoem-me a ousadia de hoje, a mesma ousadia que nos fez participar num festival popular com esta canção e com estes instrumentos, à época.


(nota: só agora me apercebi que pela primeira vez uma música minha fica ao alcance de quem a quiser ouvir; a internet é um mundo maravilhoso e assustador)





Senhora dos Navegantes
(letra e música Filipe Gomes)

a morte vestiu de negro
a saudade trajou também
caminharam pela areia branca
sem encontrarem ninguém

fizeram-se ao mar manso e calmo
dentes aguçados e garras
levantou-se o vento mais forte e a tempestade
tragou expedições, amaldiçoadas

ó Senhora dos Navegantes
dái-lhes vento de feição
proteje-os da peste e do medo
dos fantasmas da maldição
vão levar em nome de Deus
uma cruzada de remissão

com os olhos rasos de água
e as bocas a soluçar
juntam-se os gemidos e o pranto
orações para os velar
e os seus corpos mensageiros
jazem agora no mar

2.08.2007

(p) Professor(es)


A sensação é um bocado como a de ser pai, passei a dar-lhe(s) outro sentido depois de também a ter experimentado, depois de ter sentido na primeira pessoa o gozo e o sofrimento de transmitir e partilhar conhecimento.
Isabel
Irene
Graça
Irene
Pedro
Lurdes
Fernando
Isabel
Alberto
José
Márcio
Estes são os nomes de alguns dos meus professores, nomes que me marcaram e que guardo com todo o cuidado num lugar muito especial, para o resto da vida. Grande parte daquilo que sou devo-o a eles e por isso aqui lhes presto tributo.

Costumo dizer aos meus alunos que o sucesso deles será o meu sucesso. Espero desta forma poder retribuir aos meus professores aquilo que me deram e que nem sempre fui capaz de estar à altura de receber.
Bom, fico-me por aqui por que ainda tenho uma catrefada de exames para corrigir...


1.29.2007

(o) Outras Músicas

Repito a letra "o" para deixar uma sugestão, António Eustáquio e Carlos Barreto, guitolão e contrabaixo. Cliquem na imagem e visitem, porque vale a pena...

E já agora, ajablog

1.23.2007

(o) Outra Vida

Diz João Afonso sobre o seu novo album intitulado Outra Vida (...) "Os acontecimentos que nos marcam e dão outro olhar sobre a vida que levamos, que nos fazem percebê-la de forma diferente. Entre Zanzibar e este Outra Vida nasceu a minha filha e morreu o meu pai. São acontecimentos marcantes que atribuem uma nova ordem à importância relativa de todas as coisas."
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Janeiro tem-se mostrado para mim, e para a família paterna, um mês de grandes provações. Meras coincidências para quem, como eu, não vê no destino qualquer determinismo. A Outra Vida surge da inevitabilidade do respirar. Não é tragédia nem fim. É tão simplesmente Outra Vida, outra dimensão. E mesmo que o nosso cepticismo negue qualquer "fé" numa existência para além, a dignidade e a bondade de carácter e de sentimentos, provada em vida, dos que todos os dias nos deixam e nos fazem fixar os olhos no céu escuro procurando uma nova estrela, permanece e perdura para nos consolar e recordar que um bom exemplo de vida vale mais que tudo o que possamos acrescentar.
Ao tio João, ao pai António e ao tio Manel, dedico este magnifico tema do João Afonso. Onde quer que estejam...


1.11.2007

(n) Natal dos Simples

Deixei o tempo correr, impus a mim mesmo não escrever durante a quadra. Resisti à tentação de falar do (n)atal, o pico da época comercial de Inverno, a irracionalidade e a hipocrisia humanas em todo o seu esplendor. É que afinal este é um blogue sobre prazeres, paixões e coisas simples, e nem de perto nem de longe queria descambar, movido pela irritação e pelo nojo que sinto nesta altura do ano.
Adiante.
Falo por isso do (N)atal, o Natal dos Simples. Fecho os olhos por um instante e rebobino o filme. Somos pequenos, inocentes e sentimos no ar um cheiro a festa, a filhoses e a canela. Um bando de primos que se divertem tentando descobrir o conteúdo pela forma dos embrulhos. Espera-se ansiosamente a Missa do Galo. Aquela é a noite mais longa do ano e a familia está toda presente. Hoje temos permissão para nos deitarmos tarde e até podemos beber uma xícara de café da avó Laura. Tranca-se o Pai Natal na cave escura e bafienta e o Menino Jesus toma o centro da sala ilumada pelas velas, pela lareira e lá fora pelas estrelas. Tudo parece genuíno, eterno e incorruptível. Tive uma ideia, já sei como é que vou começar a próxima redacção que a professora mandar fazer: “Eu gosto muito do Natal!”.
À distância dos anos e dos quilos, acrescento: “...do Natal dos Simples”.



NATAL DOS SIMPLES (Zeca Afonso)

Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras

Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas casadas

Vira o vento e muda a sorte
Vira o vento e muda a sorte
Por aqueles olivais perdidos
Foi-se embora o vento norte

Muita neve cai na serra
Muita neve cai na serra
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem tem saudades da terra

Quem tem a candeia acesa
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas pão e vinho novo
Matava a fome à pobreza

Já nos cansa esta lonjura
Já nos cansa esta lonjura
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem anda à noite à ventura

1.05.2007

(m) Marinhoto



Repito a letra "m" para saudar um amigo que comigo tem partilhado este espaço. É justo que o faça no dia em que o seu ano dobra e as "33" velas serão sopradas, presumo eu, por avô e neta.
Esta é a forma mais simples e autêntica que tenho para lhe agradecer o contributo que tem dado a este blogue, através dos seus comentários. Embora não o conhecendo profundamente, reconheço-lhe as qualidades dum homem bom e sensivel, a quem os anos temperaram com o sal da vida, capaz de dar de si antes de pensar em si. Parabéns Marinhoto! (a poesia, essa fica para quem sabe do ofício...)

de Alberto Caeiro,

Sou um guardador de rebanhos

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar numa flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei da verdade e sou feliz.