Amanhã passam vinte anos sobre a morte de José Afonso. A RTP, serviço público de televisão, associa-se à homenagem e transmite esta madruga um debate sobre a sua vida e obra e o seu último concerto (no Coliseu), respectivamente às 00:35 horas e 01:25 horas. Em horário nobre a RTP transmite o concurso "Um Contra Todos" e a telenovela "Paixões Proibidas". O Zeca, um Grande Português, merecia bem mais! Em vinte anos mudou muita coisa, mas muito mais há a mudar, sobretudo no que à pequenez e à subserviência diz respeito. E tudo isto num tempo em que se puxa o lustre ao regime de Salazar e se apresenta o tirano ditador como um herói nacional. Continuamos por isso a ser um povo pequenino, com alguns Homens Grandes. Zeca Afonso é seguramente um deles. Viva o Zeca!
Um deste dias, remexendo nas cassetes antigas juntamente com o Francisco, encontrei uma gravação com cerca de 20 anos. Piano, viola, acordeão e voz. A canção chama-se Senhora dos Navegantes e foi uma das primeiras. A gravação foi feita por alturas de uma participação no Festival da Canção das Figueiras (Lina, Cati, Carla, Ana e Filipe). A gravação é má, muito má mesmo, as vozes mal se ouvem e nem a tecnologia conseguiu fazer milagres. Mesmo assim decidi partilhá-la, por todas as boas memórias que me traz. Perdoem-me a ousadia de hoje, a mesma ousadia que nos fez participar num festival popular com esta canção e com estes instrumentos, à época.
(nota: só agora me apercebi que pela primeira vez uma música minha fica ao alcance de quem a quiser ouvir; a internet é um mundo maravilhoso e assustador)
Senhora dos Navegantes (letra e música Filipe Gomes)
a morte vestiu de negro a saudade trajou também caminharam pela areia branca sem encontrarem ninguém
fizeram-se ao mar manso e calmo dentes aguçados e garras levantou-se o vento mais forte e a tempestade tragou expedições, amaldiçoadas
ó Senhora dos Navegantes dái-lhes vento de feição proteje-os da peste e do medo dos fantasmas da maldição vão levar em nome de Deus uma cruzada de remissão
com os olhos rasos de água e as bocas a soluçar juntam-se os gemidos e o pranto orações para os velar e os seus corpos mensageiros jazem agora no mar
A sensação é um bocado como a de ser pai, passei a dar-lhe(s) outro sentido depois de também a ter experimentado, depois de ter sentido na primeira pessoa o gozo e o sofrimento de transmitir e partilhar conhecimento.
Isabel
Irene
Graça
Irene
Pedro
Lurdes
Fernando
Isabel
Alberto
José
Márcio
Estes são os nomes de alguns dos meus professores, nomes que me marcaram e que guardo com todo o cuidado num lugar muito especial, para o resto da vida. Grande parte daquilo que sou devo-o a eles e por isso aqui lhes presto tributo.
Costumo dizer aos meus alunos que o sucesso deles será o meu sucesso. Espero desta forma poder retribuir aos meus professores aquilo que me deram e que nem sempre fui capaz de estar à altura de receber.
Bom, fico-me por aqui por que ainda tenho uma catrefada de exames para corrigir...