1.29.2007

(o) Outras Músicas

Repito a letra "o" para deixar uma sugestão, António Eustáquio e Carlos Barreto, guitolão e contrabaixo. Cliquem na imagem e visitem, porque vale a pena...

E já agora, ajablog

1.23.2007

(o) Outra Vida

Diz João Afonso sobre o seu novo album intitulado Outra Vida (...) "Os acontecimentos que nos marcam e dão outro olhar sobre a vida que levamos, que nos fazem percebê-la de forma diferente. Entre Zanzibar e este Outra Vida nasceu a minha filha e morreu o meu pai. São acontecimentos marcantes que atribuem uma nova ordem à importância relativa de todas as coisas."
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Janeiro tem-se mostrado para mim, e para a família paterna, um mês de grandes provações. Meras coincidências para quem, como eu, não vê no destino qualquer determinismo. A Outra Vida surge da inevitabilidade do respirar. Não é tragédia nem fim. É tão simplesmente Outra Vida, outra dimensão. E mesmo que o nosso cepticismo negue qualquer "fé" numa existência para além, a dignidade e a bondade de carácter e de sentimentos, provada em vida, dos que todos os dias nos deixam e nos fazem fixar os olhos no céu escuro procurando uma nova estrela, permanece e perdura para nos consolar e recordar que um bom exemplo de vida vale mais que tudo o que possamos acrescentar.
Ao tio João, ao pai António e ao tio Manel, dedico este magnifico tema do João Afonso. Onde quer que estejam...


1.11.2007

(n) Natal dos Simples

Deixei o tempo correr, impus a mim mesmo não escrever durante a quadra. Resisti à tentação de falar do (n)atal, o pico da época comercial de Inverno, a irracionalidade e a hipocrisia humanas em todo o seu esplendor. É que afinal este é um blogue sobre prazeres, paixões e coisas simples, e nem de perto nem de longe queria descambar, movido pela irritação e pelo nojo que sinto nesta altura do ano.
Adiante.
Falo por isso do (N)atal, o Natal dos Simples. Fecho os olhos por um instante e rebobino o filme. Somos pequenos, inocentes e sentimos no ar um cheiro a festa, a filhoses e a canela. Um bando de primos que se divertem tentando descobrir o conteúdo pela forma dos embrulhos. Espera-se ansiosamente a Missa do Galo. Aquela é a noite mais longa do ano e a familia está toda presente. Hoje temos permissão para nos deitarmos tarde e até podemos beber uma xícara de café da avó Laura. Tranca-se o Pai Natal na cave escura e bafienta e o Menino Jesus toma o centro da sala ilumada pelas velas, pela lareira e lá fora pelas estrelas. Tudo parece genuíno, eterno e incorruptível. Tive uma ideia, já sei como é que vou começar a próxima redacção que a professora mandar fazer: “Eu gosto muito do Natal!”.
À distância dos anos e dos quilos, acrescento: “...do Natal dos Simples”.



NATAL DOS SIMPLES (Zeca Afonso)

Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras

Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas casadas

Vira o vento e muda a sorte
Vira o vento e muda a sorte
Por aqueles olivais perdidos
Foi-se embora o vento norte

Muita neve cai na serra
Muita neve cai na serra
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem tem saudades da terra

Quem tem a candeia acesa
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas pão e vinho novo
Matava a fome à pobreza

Já nos cansa esta lonjura
Já nos cansa esta lonjura
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem anda à noite à ventura

1.05.2007

(m) Marinhoto



Repito a letra "m" para saudar um amigo que comigo tem partilhado este espaço. É justo que o faça no dia em que o seu ano dobra e as "33" velas serão sopradas, presumo eu, por avô e neta.
Esta é a forma mais simples e autêntica que tenho para lhe agradecer o contributo que tem dado a este blogue, através dos seus comentários. Embora não o conhecendo profundamente, reconheço-lhe as qualidades dum homem bom e sensivel, a quem os anos temperaram com o sal da vida, capaz de dar de si antes de pensar em si. Parabéns Marinhoto! (a poesia, essa fica para quem sabe do ofício...)

de Alberto Caeiro,

Sou um guardador de rebanhos

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar numa flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei da verdade e sou feliz.