(z) Zanzibar
E como "não há duas sem três", Zanzibar! - é o nome do terceiro álbum de João Afonso, um autor/compositor/interprete notável.
É uma grande injustiça ser sobrinho de José Afonso. Não o digo por inveja (será?), mas antes porque são inevitáveis as comparações e, talvez por isso, João Afonso não tenha o lugar que lhe pertence por direito próprio na música portuguesa.
São dele algumas das mais belas canções que conheço. Canções com alma, numa voz dolente, quente, que me fazem "perder o sentido das coisas" e recordar as paisagens, as cores e os cheiros de África, onde nunca fui nem onde nunca me perdi.
A música portuguesa continua singular e valiosíssima, longe das capitalizações bolsistas e arredada das playlists que comandam as rádios, mas contudo aqui tão perto, tão à mão. Se quiseres podes tocar(-lhe). Basta que queiras.
Clandestino (cá e Lá)
(letra e música: João Afonso Lima)
Eu sou como um marinheiro, que tropeça junto ao mar
sou como um olhar cigano à volta do teu olhar
Não tenho sempre razão não serei bom inquilino
saudades só de onde em onde, não tenho pátria nem hino
iôiô... quem se perdeu, encontrou
quem partiu também chegou
clandestino cá e lá
sem saber se algum Deus há
Pelos cantos da cidade desenhei a minha casa
construía-a sobre as dunas que ficam na maré vaza
Sou como sou
basta-me o vento
leva-me a onda
tudo o que tento
Sou como sou
onde me ausento
basta-me a festa
chega-me o vento
Eu sou como um embarcado, tão depressa chega e vai
a partida é meu destino, quando a noite quente cai
2 comentários:
Subscrevo a apreciação que fez do trabalho de João Afonso.
Os tugas das rádios e TVs "vendem-nos" mau gosto, a maior parte das vezes.
Convem, a quem os "compra", não fazerem muitas ondas...
...já nos bastava o mau gosto congénito (mas honesto, diga-se de passagem!) de muitos responsáveis pelas nossas rádios locais...
Meu caro Filipe,
Tal como tu, eu penso que o João Afonso merecia ter muito mais visibilidade que aquela que lhe é dada!...
Todavia, isso não acontecerá (só) pelo facto de ele ser sobrinho do Zeca.
Infelizmente, o problema radica em causas bem mais profundas e que se prendem com a terrível miopia que afecta a grande maioria de todos nós, portugueses...
Como é triste e preocupante esta nossa desconsideração constante para com as coisas que são nossas!!
Por experiência própria, eu sei o quanto é difícil lutar-se para mudar este estado de coisas… mesmo que seja somente a nível de uma modestíssima rádio local!...
Que havemos nós de fazer? Pouco mais que irmos tentando, para que isto possa, um dia, ser diferente e, entretanto, irmos apreciando o que de bom por cá se vai fazendo!
.......
Agora que chegaste à letra Z só te resta começares, novamente, pela letra A.
Cá continuarás ter um fiel leitor que muito admira as tuas escolhas e os teus escritos.
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