8.13.2006

(e) Endechas a Bárbara Escrava

Letra: Luis de Camões
Música: Zeca Afonso
Cantares de Andarilho

Orfeu, 1968, LP-33 rpm



Aquela cativa
Que me tem cativo
porque nela vivo
já não quer que viva
eu nunca vi rosa
em suaves molhos
que pera meus olhos
fosse mais fermosa

Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar

Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.

Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E pois nela vivo,
É força que viva.

5 comentários:

Anónimo disse...

Eu sei que deve ser difícil musicar (alguns) dos poemas dos nossos poetas maiores... Isto é: imagino que deve ser difícil.

No entanto, alguns dos nossos compositores têm-se aventurado por esses domínios e, felizmente para todos nós, com assinalável êxito!...

Mas não é só Camões que tem soberbos poemas musicáveis!... Outros poetas nossos, tanto clássicos como contemporâneos, brindaram-nos com poesia 'cantável' e capaz de fazer inveja a qualquer grande canção que da estranja nos chegue (ou nos tenha chegado)!...

Boa escolha a tua Filipe...

Anónimo disse...

Good design!
[url=http://cvmrrant.com/gfes/epte.html]My homepage[/url] | [url=http://yaizjcmn.com/yych/qlyl.html]Cool site[/url]

Anónimo disse...

Good design!
My homepage | Please visit

Anónimo disse...

Well done!
http://cvmrrant.com/gfes/epte.html | http://qfztsbye.com/plvq/mmhy.html

intertextualidade disse...

BÁRBORA NÃO

Cantando o poeta em sua escora
levara na fadiga antiga vinha.
Ó moço que no leito discorres, cuida,
arde para que sinal torne tua amiga.
Contando que a viu em face distinta,
sua companheira sorriu somente.
Vai com ele na doce peia que mais não
pode viver se sabe. Amor, disse, e apôs
seu nome, sua ventura.
Então a doce morena mordeu o lábio,
mais rica, mais leve na canela.
Porte esguio que a alma aquece.
Com vagar sorriu, deitou olhar e
co’as mãos já humedecidas as escondeu.
“Fico grato, concretamente, de seu fastio
ou de seu intento.” Calou. Sorriu.
Sorriu somente.

José Maria de Aguiar Carreiro
Folha de Poesia, Junho de 2007
http://sol.sapo.pt/blogs/josecarreiro/archive/2007/06/10/camoes.aspx