5.08.2008

(d) Douro



Foi no ano passado, mais ou menos por esta altura, que cumpri um desejo que tinha desde há muito, visitar o Douro. Em boa hora o fiz! Apenas me penitencio por só ter concretizado esse meu desejo ao fim de tanto tempo. Descobrir, sentir, respirar o Douro, devia ser obrigatório, devia fazer parte da formação e da educação básica de qualquer português. Perceber a grandiosidade e a monumentalidade do mais que perfeito casamento da natureza com o homem, algo que nunca antes havia experimentado, ficou retido para sempre e em lugar especial no meu baú das minhas memórias. Uma experiência a repetir, sem relógio nem telemóvel, ao ritmo do precioso e divino vintage com que me deliciei na Quinta da Penascosa.

Do alto do monte de S. Leonardo, na Galafura, impressionante miradouro sobre o Douro que lá bem no fundo vai serpenteando com vagar por entre socalcos esculpidos na rocha, fixei na minha memória e na memória da Sony as magníficas palavras de Miguel Torga.




São Leonardo da Galafura

À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.

Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.

Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!

Miguel Torga
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(o poema dito por Miguel Torga)

1 comentário:

Mac Adame disse...

Aguçaste-me o apetite. Não para agora, que estou longe.