6.05.2007

(s) simplesmente...

Atulhado de papéis e números, contas e mais contas, declarações fiscais, aulas, frequências, notas e os putos a exigirem cada vez mais mão de obra e cabeça fria. O tempo tem passado por mim a correr, sem dar conta do quanto preciso que ele pare para pôr a escrita em dia. Enfim, entre mortos e feridos, lá vão passando os melhores anos das nossas vidas.
E já que o tempo é curto, inversamente proporcional à vontade, detenho-me simplesmente em coisas... simples. Como esta Amy Winehouse, por exemplo. Uma voz fantástica e uma viola. Simplesmente...


4.25.2007

Liberdade

.




LIBERDADE

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada.
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,

Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta

A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por Dom Sebastião,

Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca....


Fernando Pessoa

Às vezes tenho a sensação de não viver no tempo certo, ansiar pela Liberdade parece um parodoxo depois de Abril. O ar que hoje respiramos não é o mesmo, apesar da facilidade com que o fazemos. Nem damos conta. A Liberdade porém, nunca será uma tarefa acabada. Talvez por isso eu sinta esta inquietação.

4.23.2007

Dia Mundial do Livro

.



Fica a sugestão (em especial aos meus amigos José Machado e Elsa, que comigo partilham este gosto especial pela leitura).

3.24.2007

(s) Sporting

.


Aproveito este fim de semana de selecção nacional para falar do clube do meu coração e da minha razão, o SPORTING CLUBE DE PORTUGAL!
Falo neste blog dos prazeres, das paixões. O Sporting também é isso, um grande prazer e uma grande paixão. Um clube diferente que se assume também, não pela quantidade, mas pela qualidade dos seus adeptos e simpatizantes. Como este grande sportinguista (cujo nome também começa por "S") e que aqui deixo pela qualidade e pelo bom gosto com que sempre nos brinda. Viva o Sporting! Viva o Sérgio Godinho! Às vezes o amor...


3.07.2007

(r) Ricardo Reis




Num tempo em que não há tempo, apenas peço silêncio e sossego, oito minutos para a música de Pat Matheny & Charlie Haden e para as palavras intemporais de Ricardo Reis. Palavras ditas no tempo e no modo certos, palavras que nos trazem de volta ao que realmente importa, que recentram o discurso no verbo. Não é mais um momento pretencioso de poesia e de música calma, é uma angústia sentida, uma saudade do futuro, um dia que se esfuma e uma noite que se ergue sobre as cinzas de mais uma jornada de trabalho. Cada coisa... cada coisa... a chuva parou, a lua aparece, e tu, onde estás?






Cada Coisa


Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.

À noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida.

À lareira, cansados não da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
Não puxemos a voz
Acima de um segredo,

E casuais, interrompidas, sejam
Nossas palavras de reminiscência
(Não para mais nos serve
A negra ida do Sol)

Pouco a pouco o passado recordemos
E as histórias contadas no passado
Agora duas vezes
Histórias, que nos falem

Das flores que na nossa infância ida
Com outra consciência nós colhíamos
E sob uma outra espécie
De olhar lançado ao mundo.

E assim, Lídia, à lareira, como estando,
Deuses lares, ali na eternidade,
Como quem compõe roupas
O outrora compúnhamos

Nesse desassossego que o descanso
Nos traz às vidas quando só pensamos
Naquilo que já fomos,
E há só noite lá fora.

2.28.2007

(q) Quino

2.22.2007

20 Anos Depois (23/02/1987)


Amanhã passam vinte anos sobre a morte de José Afonso. A RTP, serviço público de televisão, associa-se à homenagem e transmite esta madruga um debate sobre a sua vida e obra e o seu último concerto (no Coliseu), respectivamente às 00:35 horas e 01:25 horas. Em horário nobre a RTP transmite o concurso "Um Contra Todos" e a telenovela "Paixões Proibidas". O Zeca, um Grande Português, merecia bem mais! Em vinte anos mudou muita coisa, mas muito mais há a mudar, sobretudo no que à pequenez e à subserviência diz respeito. E tudo isto num tempo em que se puxa o lustre ao regime de Salazar e se apresenta o tirano ditador como um herói nacional. Continuamos por isso a ser um povo pequenino, com alguns Homens Grandes. Zeca Afonso é seguramente um deles. Viva o Zeca!

2.16.2007

p (parênteses)

Um deste dias, remexendo nas cassetes antigas juntamente com o Francisco, encontrei uma gravação com cerca de 20 anos. Piano, viola, acordeão e voz. A canção chama-se Senhora dos Navegantes e foi uma das primeiras. A gravação foi feita por alturas de uma participação no Festival da Canção das Figueiras (Lina, Cati, Carla, Ana e Filipe). A gravação é má, muito má mesmo, as vozes mal se ouvem e nem a tecnologia conseguiu fazer milagres. Mesmo assim decidi partilhá-la, por todas as boas memórias que me traz. Perdoem-me a ousadia de hoje, a mesma ousadia que nos fez participar num festival popular com esta canção e com estes instrumentos, à época.


(nota: só agora me apercebi que pela primeira vez uma música minha fica ao alcance de quem a quiser ouvir; a internet é um mundo maravilhoso e assustador)





Senhora dos Navegantes
(letra e música Filipe Gomes)

a morte vestiu de negro
a saudade trajou também
caminharam pela areia branca
sem encontrarem ninguém

fizeram-se ao mar manso e calmo
dentes aguçados e garras
levantou-se o vento mais forte e a tempestade
tragou expedições, amaldiçoadas

ó Senhora dos Navegantes
dái-lhes vento de feição
proteje-os da peste e do medo
dos fantasmas da maldição
vão levar em nome de Deus
uma cruzada de remissão

com os olhos rasos de água
e as bocas a soluçar
juntam-se os gemidos e o pranto
orações para os velar
e os seus corpos mensageiros
jazem agora no mar

2.08.2007

(p) Professor(es)


A sensação é um bocado como a de ser pai, passei a dar-lhe(s) outro sentido depois de também a ter experimentado, depois de ter sentido na primeira pessoa o gozo e o sofrimento de transmitir e partilhar conhecimento.
Isabel
Irene
Graça
Irene
Pedro
Lurdes
Fernando
Isabel
Alberto
José
Márcio
Estes são os nomes de alguns dos meus professores, nomes que me marcaram e que guardo com todo o cuidado num lugar muito especial, para o resto da vida. Grande parte daquilo que sou devo-o a eles e por isso aqui lhes presto tributo.

Costumo dizer aos meus alunos que o sucesso deles será o meu sucesso. Espero desta forma poder retribuir aos meus professores aquilo que me deram e que nem sempre fui capaz de estar à altura de receber.
Bom, fico-me por aqui por que ainda tenho uma catrefada de exames para corrigir...


1.29.2007

(o) Outras Músicas

Repito a letra "o" para deixar uma sugestão, António Eustáquio e Carlos Barreto, guitolão e contrabaixo. Cliquem na imagem e visitem, porque vale a pena...

E já agora, ajablog

1.23.2007

(o) Outra Vida

Diz João Afonso sobre o seu novo album intitulado Outra Vida (...) "Os acontecimentos que nos marcam e dão outro olhar sobre a vida que levamos, que nos fazem percebê-la de forma diferente. Entre Zanzibar e este Outra Vida nasceu a minha filha e morreu o meu pai. São acontecimentos marcantes que atribuem uma nova ordem à importância relativa de todas as coisas."
.
Janeiro tem-se mostrado para mim, e para a família paterna, um mês de grandes provações. Meras coincidências para quem, como eu, não vê no destino qualquer determinismo. A Outra Vida surge da inevitabilidade do respirar. Não é tragédia nem fim. É tão simplesmente Outra Vida, outra dimensão. E mesmo que o nosso cepticismo negue qualquer "fé" numa existência para além, a dignidade e a bondade de carácter e de sentimentos, provada em vida, dos que todos os dias nos deixam e nos fazem fixar os olhos no céu escuro procurando uma nova estrela, permanece e perdura para nos consolar e recordar que um bom exemplo de vida vale mais que tudo o que possamos acrescentar.
Ao tio João, ao pai António e ao tio Manel, dedico este magnifico tema do João Afonso. Onde quer que estejam...


1.11.2007

(n) Natal dos Simples

Deixei o tempo correr, impus a mim mesmo não escrever durante a quadra. Resisti à tentação de falar do (n)atal, o pico da época comercial de Inverno, a irracionalidade e a hipocrisia humanas em todo o seu esplendor. É que afinal este é um blogue sobre prazeres, paixões e coisas simples, e nem de perto nem de longe queria descambar, movido pela irritação e pelo nojo que sinto nesta altura do ano.
Adiante.
Falo por isso do (N)atal, o Natal dos Simples. Fecho os olhos por um instante e rebobino o filme. Somos pequenos, inocentes e sentimos no ar um cheiro a festa, a filhoses e a canela. Um bando de primos que se divertem tentando descobrir o conteúdo pela forma dos embrulhos. Espera-se ansiosamente a Missa do Galo. Aquela é a noite mais longa do ano e a familia está toda presente. Hoje temos permissão para nos deitarmos tarde e até podemos beber uma xícara de café da avó Laura. Tranca-se o Pai Natal na cave escura e bafienta e o Menino Jesus toma o centro da sala ilumada pelas velas, pela lareira e lá fora pelas estrelas. Tudo parece genuíno, eterno e incorruptível. Tive uma ideia, já sei como é que vou começar a próxima redacção que a professora mandar fazer: “Eu gosto muito do Natal!”.
À distância dos anos e dos quilos, acrescento: “...do Natal dos Simples”.



NATAL DOS SIMPLES (Zeca Afonso)

Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras

Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas casadas

Vira o vento e muda a sorte
Vira o vento e muda a sorte
Por aqueles olivais perdidos
Foi-se embora o vento norte

Muita neve cai na serra
Muita neve cai na serra
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem tem saudades da terra

Quem tem a candeia acesa
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas pão e vinho novo
Matava a fome à pobreza

Já nos cansa esta lonjura
Já nos cansa esta lonjura
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem anda à noite à ventura

1.05.2007

(m) Marinhoto



Repito a letra "m" para saudar um amigo que comigo tem partilhado este espaço. É justo que o faça no dia em que o seu ano dobra e as "33" velas serão sopradas, presumo eu, por avô e neta.
Esta é a forma mais simples e autêntica que tenho para lhe agradecer o contributo que tem dado a este blogue, através dos seus comentários. Embora não o conhecendo profundamente, reconheço-lhe as qualidades dum homem bom e sensivel, a quem os anos temperaram com o sal da vida, capaz de dar de si antes de pensar em si. Parabéns Marinhoto! (a poesia, essa fica para quem sabe do ofício...)

de Alberto Caeiro,

Sou um guardador de rebanhos

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar numa flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei da verdade e sou feliz.

12.08.2006

(m) Mãe


Eu tive duas mães, sorte a minha. Uma que me trouxe ao mundo e que me ensinou os primeiros passos. Outra que por vocação e amor aceitou o desafio de me educar e fazer crescer. Sorte a minha. A ambas amei, amo e amarei. Também elas me amaram, amam e amarão, sorte a minha. Não cabem nas palavras todos os sentimentos que a lágrima que quero reter a todo o custo encerra. Sorte a minha ter nascido filho de duas mães, ter experimentado o seu doce colo e o seu sorriso franco. Se hoje vires a tua, não digas nada, dá-lhe apenas um beijo e recebe o brilho do seu olhar, mais luminoso do que todas as estrelas do céu. Mas se já não for possivel, fecha os olhos, deixa a teimosa lágrima correr para a terra e oferece-lha como prova da tua ternura e da tua saudade.
.
.
de Arnaldo de Matos
.
.
a rosa que te dou
.
dou-te uma rosa
sem cheiro nem cor
foi arrancada do peito
e não é uma flor
.
e não digas a ninguém
tudo o que te der
o mesmo faço também
haja o que houver
.
muita coisa te darei
não se toca ou se cheira
deste modo te amarei
.
e com rosa sem cor
sem dizer a ninguém
simbolizo o amor

11.23.2006

(l) Lua

Mirei-te, de soslaio. Mirei-te, novamente. Uma e outra vez. Até já me tinha esquecido de ti aí em cima. Mas não sou o único! Contemplar-te com vagar é um luxo que há muito não experimento. Talvez quando os dias acalmarem. Talvez. Até lá, não te eclipses, não te vás. Continua a marcar os partos, a fazer companhia às serenatas, crescente, decrescente, minguante, cheia, pouco importa, desde que permaneças no teu lugar à minha espera.



Soneto da Lua

Por que tens, por que tens olhos escuros
E mãos lânguidas, loucas, e sem fim
Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim
Impuro, como o bem que está nos puros ?

Que paixão fez-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruim
E tão fatal para os meus versos duros?

Fugaz, com que direito tens-me pressa
A alma, que por ti soluça nua
E não és Tatiana e nem Teresa:

E és tão pouco a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética e indefesa
Ó minha branca e pequenina lua!

Vinicius de Moraes



e o meu contributo
(letra e música Filipe Gomes)


só por ti na noite, procurando em vão
um porto seguro na escuridão
não tenho medo que os baixios
me façam naufragar
só por ti eu ia a qualquer lugar

a Lua aparece, o temporal se acalma
e sinto um vazio cá dentro, na alma
cansado de ter resistido
não sei como sobrevivi
pouco depois adormeço pensando em ti

......o corpo como que morreu
......a alma como que partiu
......tu foste o lado da Lua
......que mais ninguém viu

sonho com o vento,

sonho com o mar
e algo me diz que te hei-de encontrar
talvez a próxima maré traga sinais de ti
e o vento me conte o que não vi

o Sol já vai alto, sinto-me acordar
por mais que procure não consigo encontrar
nem o barco em que naveguei,

nem o farol que me guiou
nem o meu amor que o mar me roubou


11.04.2006

Para o meu avô

obs: este post foi elaborado e é da inteira responsabilidade do Francisco





Bom dia avô.
Hoje fazes anos. São quantos anos?
Parabéns avô.

Francisco

11.03.2006

(j) José Carlos Ary dos Santos

.
.

.




Poeta Castrado, Não!

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala
é tão vulgar que nos cansa
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
a morte é branda e letal
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;

um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!


José Carlos Ary dos Santos



Será que ainda nos lembrávamos dele? Há coisas que nunca se esquecem...

10.21.2006

(i) Irmão (do Meio)



Também eu sou o "irmão do meio". Tive a sorte de não abrir nem fechar o ciclo, pude "aprender" com os mais velhos e "ensinar" o mais novo. O mote serve para vos falar de um dos meus "poetas da canção" preferidos. Minhas senhoras e meus senhores:

Este extraordinário contador de estórias, resumiu (sem se esgotar!) neste magnífico cd, uma obra e uma carreira sem par na música e na poesia portuguesas. Os convidados são de eleição e a fusão resulta numa atmosfera musical que Sérgio Godinho teve o mérito de nunca macular. Entre os que foram e as gerações vindoras, Sérgio Godinho é para mim uma referência, um irmão do meio que me aconchega na palavra e me embala na melodia.

No meu último aniversário, o mano Lúcio (o "irmão da ponta"), ofereceu-me o livro Uma Biografia Musical de Sérgio Godinho, da autoria de Nuno Galopim. Ainda não o li (por manifesta falta de tempo...), mas tenho a certeza que vou gostar. Quem tem uma obra com a excelência da sua, tem por certo um percurso de vida musical e humano, rico e revelador. Vivó Sérgio!

Para quem teima não esquecer, fiquem com:

O Primeiro Dia

(letra e música: Sérgio Godinho)


A princípio é simples anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida


Pouco a pouco o passo faz se vagabundo
dá-se a volta ao medo dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida


E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que leva a peito
bebe-se come-se e alguém nos diz bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vem cansaços e o corpo frequeja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso por curto que seja
apagam-se duvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida


Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida


E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Há coisas fantásticas, não há?

9.29.2006

(h) Homem


... contudo, continuo a acreditar nos homens. Feitos à imagem e semelhança de Deus, mantenho na bondade que cada homem revela na sua essência, uma fé inabalável. Ingenuidade, ilusão, utopia, dirão. Pode até ser, mas é esta convicção que me faz manter viva a esperança de um mundo melhor. É esta convicção que me mantém apaixonado pela vida e que me permitiu replicar a minha própria existência. O futuro do mundo depende desses pequenos homens que ajudei a nascer, bons na sua essência, depende da minha capacidade de os amar e de os compreender. Essa sociedade mais justa e mais fraterna depende por isso cada vez mais do que estou disposto a partilhar.
Só para ver o Francisco mergulhar num por sol de S. Pedro, que o avô registou na memória da máquina digital e no coração, vale a pena ser homem. Cada vez mais humanamente homem. Porque os homens são bons, na sua essência.

letra e música Filipe Gomes


Não peças p’ra entender tudo o que escreves
Há sempre algo mais que não te atreves
Posso sentir um não com indiferença
Posso sentir um não com mágoa imensa

Não peças para dar o que não tenho
Apenas te direi para o que venho
Podes contar com a força de um abraço
Nunca te deixes vencer pelo cansaço

Fazemos jogos com as palavras
Dizemos tantas coisas erradas
E o que queríamos dizer, calamos

Passamos pela vida a correr
Nem temos tempo para viver
E os nossos ideais, negamos

Não peças para dizer o que não sinto
Apenas te direi que não te minto
Quando te digo que, sou teu amigo
E em qualquer lugar, estarei contigo

Mas pede-me p’ra ser mais solidário
Não quero ser na vida um mercenário
Quero juntar a minha, à tua voz
Pois não mais serei eu, seremos nós

9.11.2006

(g) gugu dádá

foto: Francisco (aos "comandos" da sua primeira máquina, made in China)


este post é dedicado ao Gana


Quando sorri não deixa ninguém indiferente, os olhos brilham e ficam ainda maiores, duas enormes luas sem qualquer sombra de mácula ou mágua. O Miguel, empoleirado no alto dos seus 19 meses, domina como ninguém o gugu dádá, a verdadeira língua universal através da qual todos nós comunicámos um dia, uma lingua que pasme-se, nunca foi utilizada sequer para uma discussão estéril ou para uma troca de argumentos vazios. Ela serve apenas e estritamente para a sua função, comunicar sentimentos, vontades e desejos. E nós, adultos, de forma abusiva e completamente despropositada, não raras vezes procuramos tentar perceber no "vocabulário" do gugu dádá algumas das “nossas palavras”. Nada mais desnecessário, os adultos por natureza gostam de complicar.
Sei que mais dia menos dia o Miguel se vai aventurar pelo português, é inevitável. Mas confesso-vos que já estou cheio de saudades do gugu dádá e que só vou poder matar essas saudades um dia, quem sabe, se Deus me der a benção dos netos.




letra e música Filipe Gomes


o soninho já pesa nos olhos
e há um sonho que chama por ti
ó mamã vem contar-me uma estória
que eu nunca ouvi

pode ser a estória da princesa
pode ser a estória do dragão
ó mamã vem cá fica comigo
vai-te embora papão

deixa sempre uma luzinha acesa
para eu poder ver a dormir
ó meu bem dorme em paz que o papão
não torna a vir

8.24.2006

(f) Fernando Nobre



Quando a poeira destes dias incertos assenta e a espuma das horas se esfuma num fino fio de luz que se desvanece no horizonte, o que é que fica? Ficam as coisas boas, as boas acções de homens bons como Fernando Nobre, que os há...
Preocupados em procurar no passado modelos e referências, que teimamos em não reconhecer no presente e em reivindicar para o futuro, nem damos conta que homens como este são exemplos da nossa incapacidade de ver para além de nós, de transformarmos a nossa vida e o nosso talento numa dádiva de amor.
Fernando Nobre desafia o status e a lógica duma existênciazinha acomodada, insipiente, sem o sal da vida, transformando os números e as estatísticas da guerra e das catátofres em pessoas com rosto e com história, proporcionando-lhes algum consolo e conforto. E é por isso que ele e a AMI merecem aqui uma referência.



letra e música F. Gomes


quando o mar me enche os olhos
tormentos, alma calada
troco os dias pelas noites
e os livros por uma espada

ponho fé em quem confio
e atrevo-me a pedir
que não me falte a coragem
no momento de partir


perdido por cem
perdido por mil
luto com moinhos
contra o homem mais vil
se for derrotado
quero no caixão
versos de um poeta
e a espada na mão


ventos trazem cheiro a morte
dou-te a mão faço-te a cama
chamam por mim esta noite
se voltar volto sem fama

corre-me sangue nas veias
tenho Sancho e armadura
se um dia não voltar
toda a dor o tempo cura

8.13.2006

(e) Endechas a Bárbara Escrava

Letra: Luis de Camões
Música: Zeca Afonso
Cantares de Andarilho

Orfeu, 1968, LP-33 rpm



Aquela cativa
Que me tem cativo
porque nela vivo
já não quer que viva
eu nunca vi rosa
em suaves molhos
que pera meus olhos
fosse mais fermosa

Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar

Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.

Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E pois nela vivo,
É força que viva.

8.03.2006

(d) Discos


Em cima do prato gira sem parar, a 33 r.p.m., um disco de vinil preto, marcado por linhas quase imperceptíveis de música e poesia. A agulha, de sensibilidade e dimensões quase capilares revela, a 33 r.p.m., os segredos gravados nos micro-sulcos em forma de espiral. Da periferia para o centro a agulha desloca-se à velocidade de 33 r.p.m., música e poesia à velocidade certa. Os discos são pedaços de vida original e tal como a vida também eles têm uma velocidade certa, um ritmo. As capas em papel grosso, quase cartão, são por vezes pequenas maravilhas gráficas que os protegem do pó e os embrulham para olhos desejosos. Enquanto escuto, como se de um livro se tratasse, miro a capa e a contra-capa, o interior, fascinado com os desenhos e fotografias, com as letras e com as dedicatórias.
A tecnologia veio dar uma preciosa ajuda, os cd’s são mais pequenos, mais fiáveis, de melhor qualidade, a vida já não se mede em rotações por minuto. Mas nem por isso deixo de ter saudades dos meus velhos discos.

7.12.2006

(c) Carlos Paredes, Mestre Carlos Paredes


Não estou bem certo, mas foi seguramente entre 91 e 94. A Aula Magna, com lotação esgotada, recebia uma vez mais (creio até que pela última vez) o Mestre Carlos Paredes.
Já marcado pela doença que o acompanharia até à morte fisica, o Mestre entrou com visivel dificuldade amparado pela mulher Luisa, companheira e cúmplice da sua arte. A fragilidade aparente marcava o seu ritmo de entrada em palco, diante duma sala interira que, de pé, aplaudia o Mestre de forma impressionante.
Carlos Paredes sentou-se, agradeceu, pediu desculpa pela demora na entrada e abraçou a guitarra, percorrendo-a de forma carinhosa com aquelas mãos enormes e desajeitadas que o seu infinito talento domara.
Durante cerca de uma hora ouviu-se a sua música e a sua respiração forte. Durante cerca de uma hora Carlos Paredes ofereceu-me a sua imortalidade e o seu génio. Para sempre, fico-lhe grato. Apetece-me ouvi-lo de novo...
.
.
.
PS - imperdível o magnífico tributo de Pedro Jóia a Carlos Paredes

6.13.2006

(b) Bairro do Amor



Caía um fim de tarde estival num pôr do sol deslumbrante. A noite, "amante dos poetas", trocava o dia quente por uma amena e suave brisa vinda do Atlântico, que percorria toda a praia perfumando-a de maresia. Sentado na esplanada da barraca da Natátia, entre uma imperial fresquinha e meia-dúzia de amendoins salgados, tomava em amena cavaqueira dois dedos de conversa com um amigo de há muito. De sempre. Falávamos de, de nada em particular, o costume quando se encontram dois amigos - "o mais importante num amigo não é o que diz mas a sua presença!", era esta a posição oficial dum velho tio meio louco, com aspirações a filósofo.
Num rádio rouco soavam os primeiros acordes do "Bairro do Amor", palavras sentidas numa melodia sincopada. "Sempre admirei este gajo, tem qualquer coisa de diferente...", comentei. Não sei se a vida, se a forma, se o modo, se a palavra, se os excessos. Não sei. O que sei é que tem uma forma única de falar desta viagem, uma forma que parece quase óbvia.
Por momentos ficámos calados a ouvir "o gajo" cantar. Acabámos a imperial, o meu amigo olhou para o relógio, levantou-se e disse "tenho de ir andando, a gente encontra-se".


Bairro do Amor
(letra e música de Jorge Palma)

No bairro do amor a vida é um carrossel
Onde há sempre lugar para mais alguém
O bairro do amor foi feito a lápis de côr
Por gente que sofreu por não ter ninguém

No bairro do amor o tempo morre devagar
Num cachimbo a rodar de mão em mão
No bairro do amor há quem pergunte a sorrir:
Será que ainda cá estamos no fim do Verão?

Eh, pá, deixa-me abrir contigo
Desabafar contigo
Falar-te da minha solidão
Ah, é bom sorrir um pouco
Descontrair-me um pouco
Eu sei que tu compreendes bem

No bairro do amor a vida corre sempre igual
De café em café, de bar em bar
No bairro do amor o Sol parece maior
E há ondas de ternura em cada olhar

O bairro do amor é uma zona marginal
Onde não há hotéis nem hospitais
No bairro do amor cada um tem que tratar
Das suas nódoas negras sentimentais

Eh, pá, deixa-me abrir contigo
Desabafar contigo
Falar-te da minha solidão
Ah, é bom sorrir um pouco
Descontrair-me um pouco
Eu sei que tu compreendes bem

6.03.2006

(a) Amor Azul Água


Entre o azul do céu e o azul do mar, o azul do amor, azul água, vida, sem turvação ou desgosto, com gosto a azul, o azul que anseio que me devolvas com a mesma cor com que te o dou a beber.
Não sei se alguma vez vais ler estas palavras, se vais passar por aqui, mas a ausência do azul água nos teus olhos não impede o mar que neles vejo, azul, o azul do amor, profundo, que um dia me tornou perpétuo e que prolongou no tempo a minha memória com os dois oceanos de água, azul e sal, que tornam os dias mais felizes. É também por isso que te amo, meu amor azul água.

AQUI EM BAIXO...

letra e música de João Afonso


Aqui em baixo é tudo azul
o arco-íris é azul
e é azul a chuva quando molha
a minha casa está no mar
no fundo, bem fundo, azul
sem fronteiras a dividir corações

Aqui em baixo é tudo azul
o meu lugar é azul
em azul até dançam as areias
só se vê estrelas no mar
num silêncio todo azul
e mais as bolhas de
ar que nos rodeiam

Quando o riso tiver cor
um reflexo de calor
como pássaro liberto no teu quarto
rio amarelo interior, ondas de sal e vapor
fazem desenhos na água do teu parto

Aqui em baixo é tudo azul
a lua veste de azul
anémonas são nossas caricaturas
e se a morte for azul
e dormir no fundo mar
onde os sonos nos confiam as lembranças

Aqui em baixo é tudo azul
o arco-íris é azul
e é azul a chuva quando molha

5.23.2006

(z) Zanzibar



E como "não há duas sem três", Zanzibar! - é o nome do terceiro álbum de João Afonso, um autor/compositor/interprete notável.
É uma grande injustiça ser sobrinho de José Afonso. Não o digo por inveja (será?), mas antes porque são inevitáveis as comparações e, talvez por isso, João Afonso não tenha o lugar que lhe pertence por direito próprio na música portuguesa.
São dele algumas das mais belas canções que conheço. Canções com alma, numa voz dolente, quente, que me fazem "perder o sentido das coisas" e recordar as paisagens, as cores e os cheiros de África, onde nunca fui nem onde nunca me perdi.
A música portuguesa continua singular e valiosíssima, longe das capitalizações bolsistas e arredada das playlists que comandam as rádios, mas contudo aqui tão perto, tão à mão. Se quiseres podes tocar(-lhe). Basta que queiras.


Clandestino (cá e Lá)
(letra e música: João Afonso Lima)

Eu sou como um marinheiro, que tropeça junto ao mar
sou como um olhar cigano à volta do teu olhar

Não tenho sempre razão não serei bom inquilino
saudades só de onde em onde, não tenho pátria nem hino

iôiô... quem se perdeu, encontrou
quem partiu também chegou
clandestino cá e lá
sem saber se algum Deus há

Pelos cantos da cidade desenhei a minha casa
construía-a sobre as dunas que ficam na maré vaza

Sou como sou
basta-me o vento
leva-me a onda
tudo o que tento

Sou como sou
onde me ausento
basta-me a festa
chega-me o vento

Eu sou como um embarcado, tão depressa chega e vai
a partida é meu destino, quando a noite quente cai

5.04.2006

(x) Ximenes (x) Xanana




Nos dias que correm, incertos, somos tentados a valorizar os defeitos e os erros, e a substimar os gesto de coragem e de altruísmo. Lembro hoje dois homens que são dois exemplos de vida, duas faces da mesma moeda cunhada por tributo ao amor que ambos revelaram à sua terra e ao seu povo. Foram capazes de fazer a guerra para terem a paz, foram capazes de viver subjugados para alcaçarem a liberdade. Não acredito que não tenham vacilado, que não tenham tido a tentação de desertar, por um momento, por uma fracção de segundo. Mas as suas divisas foram a reserva mental e o alento que os levou à conquista - "amai-vos uns aos outros", "resistir é vencer" - são os sinais que adivinho nos seus olhos e o que admiro nos seus gestos.
Bem melhor seria o mundo se lhes seguissemos o exemplo e fossemos nós também capazes de fazer a guerra e sair deste torpor comodista que nos consome a vida.

(letra e música F. Gomes)



o dia amanhece
como um dia vulgar
nas ruas corre o sangue
dos que vieram
celebrar a noite
que é a cor da face
dos que tombaram
mas que não morreram
dos que tombaram
mas que não morreram

ouvem-se as vozes
dos que não calaram
que o corpo é igual
e que a alma sente
quando a morte vem
não escolhe a côr
e o chão que pisam
não é diferente
e a terra que pisam
não é diferente

(refrão)
mas há quem
da liberdade faça uma bandeira
mas há quem
p’la liberdade passe a vida inteira
sem o sol, sem o céu,
mas com a vontade
de que um novo dia nasça,
de que um homem novo nasça,
em liberdade

4.25.2006

(v) 25 de Abril


Grandola Vila Morena

(Letra e Música de José Afonso )

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade


«Daqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas:
As Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos, sinceramente, que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal, para o que apelamos para o bom-senso dos comandos das forças militarizadas, no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário só poderia conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os portugueses, o que há que evitar a todo o custo. Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica esperando a sua ocorrência aos hospitais a fim de prestar eventual colaboração que se deseja sinceramente desnecessária.»
.
.
.
.
.
VIVA A LIBERDADE! E Venham Mais Cinco...

4.23.2006

(u) Utopia


utopia…

só uma coisa te impede de me alcançar,
tu mesmo,
quando me procurando te perdes.
já tinhas pensado nisso?
não, não tinha.
sabes, não tenho tempo,
há coisas bem mais importantes!
será?
e agora que se vive Abril,
cumpriu-se?
“isto é tudo a mesma corja”
diabos te levem se te entendo,
então e as cores fortes do quadro
que me pintaste?
as canções?
as palavras de ordem?
foi tudo em vão?
era jovem e
sabes como são os jovens…
a vida transformou-me.
para pior, pelos vistos.
é isso que pensas de mim?
os teus filhos merecem muito mais!
sabes que por eles,
faço qualquer coisa…
então, o que esperas?